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Psicologia x Psicanálise x Psiquiatria

Muitas pessoas têm dúvidas sobre as diferenças entre essas três categorias profissionais. Então, segue uma breve explicação para que você possa se situar:

Psicologia

É uma ciência associada à área de Humanas e da Saúde, que estuda a psiquê humana, uma instância abstrata que faz parte da constituição do indivíduo, concebido como um ser biopsicossocial, e que está relacionada às emoções, sentimentos, pensamentos e comportamentos.

Para tornar-se psicóloga(o), é necessário realizar uma formação universitária de graduação durante 5 anos, que habilita a(o) profissional a atuar em diversos campos, tais como escolas, hospitais, varas de família, unidades de saúde, dentre outros.

Quem atua no consultório, está no âmbito da psicologia clínica, prática na qual se pretende que se escolha uma abordagem teórica para nortear seu trabalho. Alguns exemplos de lentes teóricas são: o behaviorismo, o psicodrama, o existencialismo, a psicologia analítica de Jung, a Gestalt Terapia, a terapia congnitivo comportamental (TCC), dentre outras.

A diferença entre as abordagens diz respeito a como cada uma concebe a noção de ser humano e de como podem oferecer ferramentas para contornar o sofrimento psíquico.

Psicanálise

A psicanálise não deve ser considerada uma abordagem teórica da psicologia, ela está fora dessa categoria e caracteriza-se como um outro saber. Essa teoria, criada por Sigmund Freud e aperfeiçoada por Jacques Lacan, sustenta, como pilar fundamental, a existência do inconsciente. O que pressupõe que há uma parte de nós que fica oculta de nós mesmos, e que, embora a desconheçamos, ela nos determina, influenciando nossas escolhas e nossa forma de ser.

A psicanálise defende que somos regidos pelo princípio do prazer e por algo a mais, além do prazer. Este "a mais" seria paradoxalmente uma satisfação em experiências de desprazer, como, por exemplo, estarmos presos em ciclos de repetições, das quais não conseguimos nos livrar, apesar de nos causarem mal-estar.

Para tornar-se psicanalista, é imprescindível submeter-se a uma análise pessoal contínua, e estar em formação teórica permanente, sendo recomendado que se realize supervisão dos casos clínicos, quando atuando em consultório. Sendo assim, cumprindo esses requisitos (análise, supervisão e estudo), não é necessário que se tenha uma formação em psicologia para tornar-se psicanalista. A(O) profissional pode ser graduada(o) em outra área e, ainda assim, exercer a psicanálise.

Psiquiatria

Já para a área da psiquiatria, é necessário ter formação universitária, com graduação em medicina, durante 6 anos, e, após a conclusão, submeter-se à especialização em psiquiatria, que tem duração de 3 anos.

Geralmente, essa abordagem médica diz respeito a uma escuta especializada, que resulta, na maioria das vezes, na prescrição de medicamentos para que possam atuar biologicamente a nível cerebral, de forma a aliviar sintomas com causas psíquicas. É importante frisar que o remédio é um aliado no tratamento, quando necessário, mas não substitui os efeitos decorrentes da terapêutica que ocorre através da fala.

Angústia

Angústia é um termo derivado do latim "angustus", que significa estreitamento, aperto ou constrangimento, utilizado correntemente para denotar um "aperto no peito", sofrimento e aflição. Para a psicanálise lacaniana, a angústia é um afeto que não engana, ou seja, é um sentimento, que quando experimentado, não é possível escondê-lo de si. Ela geralmente é o que leva alguém a dar início à sua análise, já que provoca inquietação, uma espécie de conflito interno. A angústia pode sinalizar um perigo iminente, seja ele real ou não, como também pode estar vinculada às principais fontes de mal-estar, que são, segundo Freud: o corpo próprio, a relação com o outro e a relação com o mundo externo. Sigmund Freud propõe que a fala é o principal recurso para escoar a angústia.


Depressão

Depressão é um estado afetivo diante do qual qualquer um pode se deparar na vida, ao enfrentar uma situação de perda, seja ela a perda de um ente, o fim de um relacionamento, a perda de um emprego ou a perda de um ideal, por exemplo. Caracteriza-se pela presença de alguns sintomas, como: tristeza, pessimismo, culpa, sensação de incapacidade, irritabilidade, perda de interesse por atividades antes prazerosas, alterações no sono e/ou no apetite, fadiga/perda de energia, dentre outros. Observa-se, durante um processo de análise, diante de um profissional confiável, que os pacientes costumam apresentar melhora dos sintomas, que antes prejudicavam o andamento de sua vida diária. Uma análise oferece a oportunidade de assumir uma outra postura na vida.

Ansiedade

A ansiedade pode ser considerada hoje um sintoma contemporâneo. A exigência para que estejamos sempre de prontidão para responder a qualquer demanda, com o máximo de eficiência, coloca-nos em uma dimensão temporal de urgência constante. Esse imperativo de velocidade traz a sensação de estarmos sempre um passo à frente do tempo presente, tentando atender a todas as demandas que nos são impostas, no menor tempo possível. Essa condição imediatista resulta numa cultura, onde cada vez menos se aceitam os intervalos entre o agora e o depois, sendo comum observar impactos no campo psicológico também. Atualmente, há uma expectativa para que os processos subjetivos aconteçam rapidamente, sem respeitar o fluxo de tempo necessário que cada sujeito precisa para realizar suas elaborações psíquicas. Hoje há uma pressão para que as pessoas que estão passando por uma situação difícil de perda, por exemplo, como a perda de um ente querido, de uma relação ou de um emprego, se recuperem rapidamente desse processo de luto e voltem às suas rotinas produtivas, sem terem o direito de estarem tristes. A psicanálise acredita que todo o processo é necessário ser vivido no tempo de cada sujeito. O acompanhamento psicológico em uma análise oferece a possibilidade de desenvolver estratégias mais eficazes para manejar sua vida diante das situações de angústia.

Crises de Pânico

As crises de pânico, assim denominadas pela psiquiatria, podem ser caracterizadas por um estado psíquico de medo intenso de que algum mal aconteça, mesmo que não haja nenhuma situação de perigo real à vista. Essas crises costumam apresentar muitos sintomas físicos, como falta de ar, aperto no peito, coração acelerado, suor excessivo, dormência nos membros, tontura e dores abdominais. A causa, entretanto, é psicológica. Esse mal-estar costuma ser desencadeado por situações de sofrimento, muitas vezes desconhecidas pelo próprio sujeito, que encontram, nesses sintomas físicos, uma via para escoar a angústia, através do corpo. As crises aparecem de forma inesperada e recorrente, acompanhadas de um medo constante de perder o controle, de adoecer, de enlouquecer ou até de morrer. Geralmente os pacientes em análise costumam apresentar diminuição considerável dos sintomas desagradáveis, com o espaçamento, ou, até mesmo, eliminação das crises.

Relacionamentos

É muito comum observar conflitos nas relações, sejam elas amorosas, profissionais, de amizade ou entre familiares. Sigmund Freud aponta que o relacionamento com o outro é uma das principais fontes de mal-estar. Estar em contato com o seu semelhante costuma gerar conflitos, porque as pessoas apresentam modos diferentes de lidar com as situações que se apresentam na vida. Daí surgem os desentendimentos. Essa dificuldade de consenso é o que muitas vezes leva a discussões e, em alguns casos, a rompimentos nas relações. A análise oferece a oportunidade de desenvolver um olhar mais flexível e de possibilitar um reposicionamento subjetivo diante de si e dos outros.

Ressonâncias subjetivas - coronavírus

O imperativo do confinamento. O risco do contágio. O risco das perdas. A quebra de uma rotina. A adaptação a uma nova forma de ser e estar no mundo. A privação de se dar a ver ao olhar do outro. Os conselhos "fáceis" sobre como ocupar o tempo e driblar o tédio. A angústia por se deparar com a paralisia de nada fazer. A falta de fazer o que se costumava. O peso de fazer o que nunca havia sido feito. O mal-estar do encontro diário consigo mesmo e da convivência com o outro. A dor da distância. A incerteza e a falta de garantias evidentes.

Alguns efeitos psíquicos da pandemia 2020 (COVID-19).

Foto: @susanocorreia